Flamengo: o pagamento de dívidas barra um time campeão?
Uma análise sobre a gestão do clube carioca revela pontos importantes
Se o rubro negro em épocas passadas sofria diretamente por conta de dinheiro, hoje a realidade é outra. Da mesma forma que o clube conseguiu colocar a casa em ordem, a torcida anda impaciente por títulos. A expectativa foi gerada devido a um Flamengo soberano devido as arrecadações milionárias e ajuste financeiro. O time rubro negro aumentou o faturamento consideravelmente, equacionou organizadamente dívidas e ampliou investimentos. Mas é aí que está o problema. A torcida apoiou o enquadramento financeiro (com razão!). Futebol ainda é feito de títulos e a cobrança da torcida para que o time consiga empilhar troféus aumenta. Em todo este tempo de renovação, o Fla levou uma Copa do Brasil (2013) e dois Cariocas (2014 e 2017).
Em 3 de dezembro de 2012, Eduardo Bandeira de Mello assumia o Flamengo com uma missão. Resgatar o futebol do time carioca em meio ao caos financeiro que vivia o clube. Nota: pouco antes, em 2009, o clube se sagrava campeão Brasileiro mais uma vez. Conseqüentemente, o clube hoje é referência nas contas.
Mas falta mais.
Engenharia financeira
Em 2013 o clube devia um valor aproximado de R$ 700 milhões. Pelo demonstrativo financeiro de 2017, o endividamento caiu significativamente e chegou aos R$ 450 milhões.
Gestão de elenco
Avaliando o que se montou em termos de times, o Urubu dificilmente teve uma consistência no seu elenco. Obviamente, os primeiros anos da diretoria era controlar a bolhar financeira. Um exemplo: só agora com a chegada de Diego Alves o time corrigiu a posição de goleiro, carente desde a turbulenta saída de Bruno há 9 anos atrás. Mas outra questão seria os gastos com determinadas posições. Segundo a apuração de Vinícius Castro, repórter e setorista do Flamengo no Uol, os três anos de Guerrero no Flamengo saíram por R$ 43 milhões. Nenhum jogador alçou o posto de ídolo – possivelmente pela falta de um título de expressão.
A verdade é que o clube deve muito dentro de campo. Porque nenhum time montado conseguiu uma sequencia vitoriosa, ou um título de expressão. Vários jogadores passaram e ainda não há no clube uma base montada. E a reposição nunca é satisfatória.
Em contrapartida, negociações do lateral Jorge para o Monaco e do atacante Vinicius Júnior para o Real Madrid foram exorbitantes. E também marcam uma mudança de patamar. Você consegue se lembrar da última boa venda do clube? O lateral foi vendido por € 8.5 milhões de euros à época, R$ 28,8 milhões de reais. Como o clube tinha 70% dos direitos econômicos, recebeu algo em torno de R$ 20 milhões. Já o atacante foi vendido por 45 mi de euros – cerca de R$ 154 milhões. Um total de 53,5 mi de euros. Detalhe: dois jogadores revelados pela base flamenguista.
Estrutura
O Flamengo arrendou por três anos o estádio Luso-Brasileiro, da Portuguesa, na Ilha do Governador, reformou o local e construiu estruturas temporárias para poder utilizá-lo. A estréia foi em 14 de junho de 2017, contra a Ponte Preta. Em 6 de julho de 2018 o time carioca encerrava o contrato com a Lusa. Foram investidos 12 milhões no estádio. empresas envolvidas na queda da torre de iluminação, buscando o ressarcimento dos prejuízos causados ao Clube. Posteriormente, o clube abandonou de vez o local e voltou ao Maracanã.
O cube realizou 20 partidas no Ilha do Urubu, com 15 vitórias, dois empates e três derrotas – aproveitamento de 78,3%. Por que então abandonar o aconchegante estádio? Porque não houve planejamento e a diretoria errou. Alegando assinatura com o Maracanã, como resultado vemos o clube deixar milhões jogados na ilha. Sem falar na queda de duas torres, e o Fla processa a empresa responsável. Há ainda uma linha de conselheiros que contesta o valor e crê que o valor envolvido é maior.
O CT do clube, algo que ainda era inexistente, deu lugar a uma estrutura com 50% das obras concluídas. São R$ 23 milhões investidos no novo CT. Neste caso, ponto positivo.
Quanto o Flamengo arrecada?
Em 2017, o time carioca teve receita de R$ 648 milhões.
O Flamengo tem como patrocinador principal a Caixa Econômica Federal. Na camisa, há a Carabao, o Descomplica, a MRV e a Tim, dentro do número de jogo dos atletas. A Adidas assina o uniforme rubro-negro. Em tese, a camisa do Flamengo vale aproximadamente 100 milhões de reais.
Com uma torcida de aproximadamente 35 milhões de torcedores que gera toda a grana em patrocínios e cota de tv. Em contra partida, no site do Flamengo a marca registra mais de 103 mil sócios. (torcedores alertaram sobre este número). Da mesma forma que possui uma torcida numerosa, o número de ST poderia ser maior. Certamente um trabalho bem feito poderia alavancar esse número. E certamente, gerar mais incremento de receita.
(nota: editamos o parágrafo sobre Sócio Ttorcedor. De acordo com o próprio Flamengo, com quem conversamos, o Futebol Melhor não recebe mais informações do clube).
Talvez esta seja a grande causa da discórdia que tem movido a fúria do torcedor. Enquanto o clube faturou da TV R$ 170 milhões de reais em 2017 e teve o mesmo valor para 2018. É muita grana para pouco resultado.
Com todo esse dinheiro, é natural que o torcedor se pergunte porque outro times que recebem menos dinheiro conseguem ter mais sucesso.
O que esperar do Fla?
Pelo peso da camisa, pelo tamanho da torcida e pelos investimentos, provavelmente o que se espera é a soberania do clube nas competições. Em que pese nós termos uma boa quantidade de times grandes existentes no Brasil, o Flamengo precisa ter objetivos bem definidos quanto a participação nos torneios. Certamente a torcida anseia por times competitivos. A montagem do elenco deve ser feita por um diretor capacitado e conhecedor do futebol. Em meio a essa mudança de patamar é necessário conhecimento de futebol, porque o ponto a ser observado é que nenhum time foi montado e está na memória do torcedor.
Acima de tudo, a gestão precisa ser grande também dentro de campo. Todos querem um time saneado. Mas sobretudo, a sua torcida quer mais. Conta no azul merece os parabéns, mas não é garantia nenhuma de troféu.
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Foto: pixabay
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