Você vai ler agora sobre a rotina do marketing de um clube tradicional como o América-RJ. E ler conselhos para entrar e trabalhar no marketing esportivo. Muitos simpatizantes da área pensam que começar em clubes como o América-RJ pode ser o ponta pé inicial para sua carreira. Vejamos esse caso de como foi entrar neste nicho.
O profissional
Mauro Côrrea é carioca e trabalha no seu time do coração: um desejo grande entre os recém formados. Recebo muitos e-mails de aspirantes ao mercado nesta situação. Pensam que é fácil?
Formado em Administração com ênfase em Marketing, e toda uma carreira no mercado financeiro. Em 2015 decidiu empreender, e se tornou microempreendedor para atuar no segmento. Inicialmente o foco era a captação de recursos, mas depois percebeu grande deficiência, a retenção do cliente, no caso, o patrocinador. Hoje atua como gerente de marketing do América-RJ e presta consultoria de pós-venda para clientes no segmento do esporte.
O Ataque conversou com o Mauro e ele contou como entrou no Marketing Esportivo. Contou também como é trabalhar em um clube com orçamento limitado, falou sobre a dificuldade, os retornos positivos e sobre encarar a tradição de um clube e diretoria por algumas vezes engessadas no comando:
1) Por que encarar um desafio com o América-RJ, um time tradicional, mas com recursos limitados?
Primeiro porque sou América-RJ, segundo porque tenho o sonho de ver meu clube se profissionalizar de ponta a ponta. Na verdade, esse desafio iniciou em 2007, quando fui convidado a ser vice-presidente de marketing, mas era difícil porque o tempo que tinha para me dedicar era curto. As vice-presidências não são profissionais, você atua no tempo que sobra do seu dia. Nas duas gestões seguintes fui convidado pelos presidentes a permanecer. No entanto, comecei a perceber que pouca coisa era feita, não totalmente por culpa das pessoas, mas por um modelo de gestão obsoleto, ultrapassado. Comecei a tentar incutir na cabeça dos presidentes que algumas vice-presidências precisavam se profissionalizar. Não posso deixar de enaltecer a coragem do presidente Léo Almada. Ele, um homem de idade já avançada, parece um garoto no comando do clube, sempre otimista. Se ele não assumisse o América-RJ, talvez não estivéssemos mais vivos.
2) Quais os principais obstáculos você enfrenta hoje com o América-RJ?
A falta de recursos destinados ao departamento. Não há um provisionamento de receita para o marketing, isso faz com que muitas ideias não saiam do papel. Quando conseguimos aporte, não é suficiente para dar continuidade aos processos. Concordo que a prioridade seja o futebol, mas o clube precisa entender que o marketing não é tão somente um mascate que sai às ruas com uma proposta comercial para vender a marca da instituição. O América precisa de um certo tempo para se reestruturar como deve ser, porém, essa reestruturação tem de ser feita de dentro para fora. Tenho certeza que em algum momento será implementada na sua totalidade.
3) Qual a estratégia adotada pela diretoria no marketing do América-RJ?
Tento mostrar à diretoria que é necessário definir uma cota de captação que represente 1/3 do orçamento do futebol para 2017. Ou seja, as receitas de patrocínio devem ter a meta de 35% do orçamento do futebol, se conseguirmos mais estará bom demais. Tivemos um saldo ruim nas tentativas de captação em 2016, devido as cotas que, não minha opinião, eram altas para o atual cenário do clube. Existe uma confusão normal dentro dos clubes tradicionais, que é a de confundir o valor institucional da marca com o valor atual de mercado. Mas não culpo os diretores e conselheiros, eles são torcedores. Cabe ao departamento de marketing mostrar esse cenário. Entretanto, é preciso que essa resistência seja quebrada.
Estamos definindo o planejamento de marketing para 2017 e nele pretendemos inovar. A começar com a criação um grupo de 04 profissionais com perfil exclusivamente comercial, onde o foco será a captação, dentro dos parâmetros definidos em reuniões que faremos. Trabalhar com cotas menores, mais acessíveis ao investidor e proporcionar um retorno que agrade ao parceiro. Temos que incorporar o conceito que o sucesso da parceria permeia a satisfação do patrocinador. Muitos clubes ainda pensam na razão inversa, idealizam que a camisa é apenas um outdoor, que a marca está sendo exposta. Não é mais assim.
4) Vale a pena encarar um clube com recursos tão discrepantes quanto aos rivais citadinos? Profissionalmente, qual a preparação é necessária para mostrar o seu valor?
Estou no América-RJ porque sou torcedor do clube. Talvez, se estivesse em outro lugar já teria pedido o boné. Vale a pena sim, quero ver meu clube, pelo menos, na Série B do Brasileiro. Mas repito, o problema crônico do América está no seu modelo de gestão. Ele precisa ser alterado, está ultrapassado há pelo menos uns 30 anos. A maior equação a ser resolvida não é implementar o novo modelo, mas ter condições para detonar o processo para valer. A pressão é grande, o torcedor cobra patrocínios, cobra gestão de excelência, cobra futebol forte. Nosso desafio maior é criar oportunidades dentro do pouco que hoje temos a oferecer ao mercado. Porém, outro conceito que é importante ter em mente é de que o produto que vendemos é o futebol. Se ele vai bem, facilita o nosso trabalho. Mas, se os resultados no campo não são satisfatórios, as dificuldades crescem.
Em 2016 conseguimos patrocínios pontuais para os jogos com TV, a renovação do fornecedor de material esportivo – que está conosco há 06 anos – e uma outra empresa que atua na área médica para todo o campeonato, no sistema de permuta de serviços. Contudo, o clube ficou 4 anos na Série B, quando voltou para a Série A não entrou na grade de transmissões da emissora que detém os direitos. Mas isso tudo é natural, você vende pelo momento atual. Só existe uma maneira de sair disso, é com muito trabalho e condições para executar as ideias.
5) O América-RJ é um clube tradicional. Como engajar o torcedor nas diversas ações em campeonatos de menor visibilidade?
Essa é a pergunta mais difícil de responder (risos). Confesso que eu ainda não sei qual o melhor caminho a ser seguido agora, após mais um rebaixamento. O torcedor rubro é exigente, carente e cobra bastante. Quando o futebol não vai bem, temos muita dificuldade em implementar ativações. Talvez o melhor caminho a seguir seja o de colocar os pés bem firmes no chão, ter consciência de que precisamos remar tudo de novo e criar engajamentos sem muita pirotecnia. Aliás, sempre fui contra muito oba-oba. Mas entendo o torcedor. Eu tenho que ser profissional.
6) A parceria de Edson Passos-América-Fluminense foi benéfica na recuperação e revitalização do estádio. Quais os planos futuros para o estádio e essa parceria?
O marketing não participou desse processo. Ele foi conduzido por outros membros da diretoria, no entanto, vejo como positiva a ação, pois o estádio sofreu algumas intervenções em obras que foram muito importantes para nós. Sobre planos futuros, tudo vai depender da vontade do Fluminense em continuar. Já solicitei à diretoria que o marketing esteja opinando no processo se a renovação do contrato acontecer.
7) Mauro, por favor, deixe uma mensagem para a torcida do América.
Que não desistam nunca do nosso clube.
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Para finalizar, Mauro dá como grande dica para todos que usem sempre o bom senso. “Isso nenhuma faculdade ou curso nos dá” – diz, e finaliza: todo conhecimento sem bom senso na hora da tomada de decisão é inócuo.
Outra sugestão do Mauro é estar atento a tudo, a todos. Às vezes, quem mais subestimamos tem muito a nos ensinar no processo criativo e produtivo.
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Imagem: Site do clube
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