#MulheresNoFutebol: marketing social como oportunidade para a dupla Ba-Vi
A campanha da dupla Ba-Vi com o Ministério Público da Bahia visa a implementação de ações para fortalecimento do combate à discriminação contra a mulher.
Um Termo de Cooperação Técnica firmado pelo Ministério Público da Bahia com o Esporte Clube Bahia e o Esporte Clube Vitória, no dia 29 de outubro, garantiu o início da campanha “#MulheresNoFutebol”. Os clubes se comprometeram com o MPBA a realizar a campanha contra a discriminação de gênero no futebol. As primeiras ações foram apresentadas nas redes sociais da dupla Ba-Vi, antes do início do clássico no último domingo (11), pelo Campeonato Brasileiro.
A campanha tem a finalidade de fortalecer a defesa dos direitos das mulheres, que vêm enfrentando o preconceito e a discriminação fabricada a partir de uma matriz sexista e machista. Por isso, surge a necessidade de prevenir esse tipo de comportamento por parte dos jogadores de futebol dos clubes e resguardar os direitos das mulheres, com ênfase no direito ao lazer e ao esporte de forma igualmente digna.
O vice-presidente do Bahia, Vitor Costa, ressaltou que o clube de futebol, com o acesso fácil que tem com a massa, tem um papel importante de promoção de ações de conscientização. Ele informou que 35% do público das partidas de futebol é formado por mulheres. Representando o presidente do Vitória, o diretor de Mercado e Comunicação, Anderson Nunes, registrou que os clubes não podem fugir de sua responsabilidade e afirmou a disposição do Vitória para trabalhar iniciativas nesse sentido.
Segundo o Termo, apesar do significativo público feminino nas torcidas dos times de futebol, no Brasil, especialmente no Estado da Bahia, ainda persistem no meio futebolístico atitudes preconceituosas e discriminatórias contra as mulheres, com reprodução da violência de gênero, notadamente de caráter moral e psicológico.
Marketing Social como oportunidade de melhora na imagem do Clássico Ba-Vi
Se o valor de uma marca é cada vez maior do ponto de vista mercadológico, os riscos associados a um evento como um clássico de futebol, da mesma forma, crescem proporcionalmente. Confusões entre as torcidas, brigas entre jogadores dentro de campo, desentendimento com a mídia, entre outros fatos, continuam prejudicando a imagem do clássico Ba-Vi e, consequentemente, prejudicando os negócios onde a dupla pode estar envolvida.
Os incidentes que já ocorreram em jogos do clássico agregam inúmeras perdas financeiras para os dois clubes. Pela implementação da torcida única nos jogos da dupla Ba-Vi, instituído pelo Ministério Público em 2017, após a morte de um torcedor durante o primeiro clássico do ano, o número de torcedores que deixam de ir ao evento se reduziu e a insegurança e falta de expectativa quanto à qualidade do espetáculo são alguns dos motivadores dessa realidade.
Envolvidos, então, com a estratégia de união, responsabilidade e conscientização, a dupla Ba-vi, com o início efetivo da campanha “#MulheresNoFutebol”, já começa a garantir a possibilidade de mudança de cenário do clássico baiano. A ação conjunta se mostra como uma chance de agregar ao evento uma sensação de ambiente menos hostil, sensibilizador e tolerante, conquistando valor agregado junto à opinião dos torcedores e dos demais públicos, amenizando a imagem negativa atribuída ao clássico após os trágicos acontecimentos durante os jogos das últimas temporadas.
A campanha de Marketing Social, se realizada periodicamente, contribuirá como garantia para o Bahia e para o Vitória, minimizando os efeitos negativos proporcionados pela crise vivida pelo Ba-Vi desde 2017. As narrativas que tendem a ser construídas durante o movimento #MulheresNoFutebol correspondem à identidade organizacional que tende a respaldar a dupla em possíveis novas situações de crise.
Uma campanha de Marketing Social desse tipo nada mais é do que um esforço organizado feito por uma organização ou determinado grupo com o propósito de convencer os públicos, escolhidos como alvo, a aceitar, modificar ou abandonar certas atitudes, ideias e/ou comportamentos. Porém, importante destacar, que ele, acima de tudo, oferece para os clubes boas alternativas comunicacionais junto à opinião pública, em auxilio às ações de reconstrução de imagem e de reputação após a ocorrência de crises.
A importância do papel social do Futebol
As ações sociais em clubes, que movimentam grandes receitas, vêm ganhando força por conta da valorização de uma gestão profissional no futebol. Nesse meio, vemos diversas campanhas de cunho social acontecerem em meio aos eventos-espetáculo. As campanhas assumem conotação de assistência social ou de amparo para questões em evidência na atualidade.
Claro. É dever dos clubes se importar com as pessoas que os acompanham e ajudam a construir as suas histórias em suas diversidades. As torcedoras ainda enfrentam dificuldades para ir aos espaços, mas elas sempre estiveram nas arquibancadas e merecem que seus clubes as valorizem.
Não há como medir até que ponto usar as camisas com a hashtag #MulheresNoFutebol faz algo mudar na relação dos jogadores e dos torcedores com suas companheiras, com as jornalistas e com outras mulheres que fazem parte de sua convivência. Mas isso não subtrai o valor da ação. A verdade é que é preciso dar passos mais adiante no enfrentamento dessas questões.
Campanhas desse tipo não podem simplesmente se resumir a usar bandeiras de lutas sociais, como a violência contra a mulher, a homofobia, o racismo, em benefício das marcas. As ações pontuais têm um efeito importante, mas não podem ter início e fim em si mesmas, é preciso que elas estejam articuladas às ações cotidianas dos clubes para que seus efeitos sejam mais profundos e efetivos. Precisamos que os clubes tenham atitudes coerentes às campanhas que emplacam, não por uma questão de mercado, mas respeito a quem sempre acompanha e apoia o time.
Porém, não podemos negar. O empate de 2×2 no jogo em nada modifica na vitória da dupla Ba-Vi com a campanha “#MulheresNoFutebol”. A iniciativa do Ministério Público da Bahia em envolver os clubes em ações dessa dimensão é importante. É reconhecer o poder e o alcance dessas organizações com o seu potencial de interferir positivamente em discussões sobre cidadania e direitos. Fica de incentivo ao Bahia e Vitória, para que continuem com suas ações conjuntas, e de lição para os demais clássicos nacionais, para que tomem novas iniciativas neste sentido.
—
Candice Viana, 21 anos, baiana. Estudante de Comunicação Social – Relações Públicas na Universidade do Estado da Bahia.
Imagem: Divulgação
Leia mais: Conteúdo esportivo é diferencial nos clubes