Gestão

Auxílio Emergencial da CBF: para onde vai o dinheiro?

Sem a fiscalização da CBF, alguns clubes podem receber o Auxílio Emergencial da CBF e não repassar aos jogadores


Diante de um ano cheio de incertezas no futebol devido à pandemia do COVID-19, o novo coronavírus, a Confederação Brasileira de Futebol (CBF), que pausou todos os campeonatos de 2020, decidiu agir em favor dos clubes e federações de divisões inferiores.

No início do mês de abril, a CBF anunciou uma ajuda financeira de R$19 milhões, como doação, não como adiantamento de qualquer tipo. Isso porque, sem os jogos e caixa de bilheteria e cota de televisão, alguns clubes teriam que se desfazer de boa parte do elenco e até mesmo encerrar as atividades. 

Assim, de acordo com dados e contratos apurados pela entidade, receberiam uma parte do Auxílio Emergencial da CBF times que estariam disputando as Séries C e D do Campeonato Brasileiro no valor que equivale a dois meses de salário médio dos atletas, ou seja, duas folhas de pagamento. 

Carta assinada motivou ação da entidade

Vale lembrar que a iniciativa da CBF se deu depois de receber uma carta assinada por todos os capitães dos elencos nessas divisões. Uma Carta Aberta memorável foi a do Democrata de Sete Lagoas, que percorreu o Brasil no dia 3 de abril e pode ter sido determinante para a decisão da entidade, que anunciou a proposta de auxílio apenas 3 dias depois.

A medida também englobou as Séries A1 e A2 do Campeonato Brasileiro Feminino de Futebol. Assim, o total de clubes beneficiados chegou a 140. O objetivo, para a CBF, era claro: ajudar os times a arcar com os compromissos com seus jogadores neste período de paralisação do futebol e isolamento social para combate ao coronavírus.

Vivemos um momento inédito, de crise mundial, cuja extensão e consequências ainda não podem ser calculadas. É necessário, portanto, agir com critério e responsabilidade. O nosso objetivo, com essas novas medidas, é fornecer um auxílio direto imediato. Mas, além disso, temos que seguir trabalhando para assegurar a retomada do futebol brasileiro no menor prazo possível, quando as atividades puderem ser normalizadas. Fala do presidente da CBF, Rogério Caboclo. 

O auxílio foi dividido assim:

Série C: R$ 4 milhões para 68 clubes – R$ 200 mil por clube

Série D: R$ 8,16 milhões para 20 clubes – R$ 120 mil por clube

A1 Feminina: R$ 1,92 milhão para 16 clubes – R$ 120 mil por clube

A2 Feminina: R$ 1,8 milhão para 36 clubes – R$ 50 mil por clube

Ainda, receberam 120 mil reais todas as Federações Estaduais, num total de 3,4 milhões.

O auxílio emergencial começou a ser pago na terça-feira seguinte, porém, sem fiscalização da CBF. A repórter Renata Mendonça, do blog Dibradoras, teve acesso a uma denúncia envolvendo os clubes que receberam o dinheiro para a manutenção do futebol feminino e usaram para fazer outras coisas que não o pagamento das atletas (que, na maioria das vezes, não recebem salários, apenas uma ajuda de custo).

O caso trazido pela Renata é do Audax. O clube paulista está na Série A1 do Campeonato Brasileiro Feminino e sem divisão na modalidade masculina. Mesmo após receber o dinheiro doado pela CBF para a manutenção da equipe feminina (o suficiente para 5 meses, visto que a folha salarial delas é de 22 mil reais), o time presidido pelo ex-jogador Vampeta pagou apenas metade da ajuda de custo de abril e suspendeu o contrato de todas as atletas. 

Versão do clube

O filho do dono do Audax e responsável pela parte administrativa, Gustavo Teixeira, afirmou que o dinheiro recebido era “referente ao apoio financeiro emergencial e excepcional concedido em razão da pandemia COVID-19” e não tinha qualquer ligação com o futebol feminino (mesmo sendo a única modalidade disputando um campeonato da CBF).

“Acredito que o Audax não recebeu nenhuma orientação da CBF de como esse dinheiro deveria ser gasto. Essa pandemia prejudicou imensamente as finanças do clube. Infelizmente, estamos tendo que mandar várias pessoas embora e entendemos que esse recurso da CBF foi para ajudar o clube como um todo, e não exclusivamente o futebol feminino. […] Uma coisa que eu deixo claro para você é que se após o término do Campeonato Brasileiro Feminino sobrar algum dinheiro desses R$120 mil, o Audax se compromete a repartir com as atletas”, disse Gustavo Teixeira.

Dessa forma, concluímos que, sem a fiscalização da CBF, alguns clubes, a exemplo do Grêmio Osasco Audax, podem receber esse auxílio e não repassar aos jogadores. No caso da modalidade feminina a situação é ainda mais grave, pois, assim como Gustavo Teixeira, outros administradores podem tratar as jogadoras profissionais como resto. 

Infelizmente, as mulheres do Audax que foram, por falta de termo melhor, roubadas pelo clube paulista, não tem amparo judicial. O contrato não era de trabalho (CLT), mas sim pago como uma ajuda de custo, sem qualquer vínculo empregatício, prática comum à maioria das atletas de futebol feminino no Brasil. 

Texto: Malu Precioso, integrante do FalacGalo e apaixonada por futebol (@MalluPrecioso)

Foto: Lucas Figueiredo/CBF

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