Gestão

Mudanças no futebol: o momento de atingir a maturidade no Brasil

Falar em mudanças no futebol é sempre uma tarefa difícil. A modalidade no Brasil sempre apresentou um “saudosismo” enorme e que pouco ajuda no desenvolvimento e evolução do futebol. Por outro lado, é certo afirmar que o futebol visto em outros mercados como na Europa e EUA se tornou um produto do entretenimento, isto é, um grande negócio que movimento bilhões de dólares pelo mundo e que não permite “amarras” políticas, práticas de gestão amadoras e irresponsabilidade financeira e técnica.

Em tempos de Covid-19, que toda a indústria do esporte está com suas atividades paradas, não haveria momento melhor para começar a discutir as mudanças do futebol brasileiro. Está na hora de atingir a maturidade para (re)construir a modalidade, formar líderes e iniciar mudanças mais profundas.

Para tal, buscar estudos e pesquisas sobre o grau de desenvolvimento do futebol no Brasil é um bom início para entender em qual estágio estamos. O relatório “Impacto do Futebol Brasileiro” realizado pela Ernst & Young (EY), a pedido da CBF e publicado ano passado, mostrou um panorama completo com o objetivo de “entender o futebol brasileiro como indústria, identificar onde esse setor se encontra no cenário econômico, mapear esportiva e economicamente a cadeia produtiva do futebol e avaliar a sua evolução ao longo dos anos”.

O material apresentou que em 2018, o futebol brasileiro movimentou R$ 52,9 bilhões, gerando  um impacto de 0,72% no PIB brasileiro. A cadeia produtiva do futebol (que compõem esse volume financeiro) envolve grupos de mídia, torcedores, patrocinadores, fornecedores de materiais esportivos, CBF, federações, clubes e atletas – conforme visto na imagem abaixo.

Reprodução: Impacto do Futebol Brasileiro (EY e CBF)

Através desses dados, é possível identificar o tamanho dessa “indústria” e todo seu impacto dentro do Brasil, mesmo com a modalidade ainda não apresentando um nível de profissionalização desejado. No Brasil, ainda de acordo com o relatório, existem 1347 clubes ativos no modelo associativo e 83 geridos por empresas. Encontramos vantagens e desvantagens dentro dos dois modelos, sendo altamente complexo a tomada de decisão em caráter administrativo e técnico.

Contudo, é inegável que a gestão de clubes de futebol precisa trabalhar dentro de um planejamento estratégico, apoiado em uma visão de longo prazo, metas e planos de ação bem delineados. Além disso, apresentar normas de transparência, equidade, prestação de contas e responsabilidade corporativa constituem princípios básicos da Governança Corporativa. Tudo isso, feito por profissionais qualificados, experientes e preparados para gerir essas organizações. A personalidade passional que ainda é visto em alguns “gestores”, deve dar lugar ao no hall especializado capaz de tomar decisões e resolver problemas – práticas do dia a dia deste profissional.

Essa linha de pensamento, se aplica aos clubes, Federações e a Confederação, pois são essas as entidades que compõem esse ecossistema e, na maioria das vezes, atuam como protagonistas dentro dessa cadeia.

Momento de atingir a maturidade

Em um momento de atingir a maturidade, é necessário fazer mais. Precisamos formar líderes para determinar e influenciar o caminho a ser seguido, nomear entidades representativas de caráter administrativo, técnico e moral para propor uma discussão e, ainda, vou além ao mencionar uma maior aproximação com a Universidade, fator este, que pode auxiliar através do conhecimento científico.

A discussão passa por uma série complexa de fatores que envolvem toda uma indústria. Se queremos tratar o futebol como um produto, precisamos de entender nosso produto. Os números do relatório apresentou o tamanho deste negócio. Agora, é necessário discutir e iniciar as mudanças para conseguirmos competir com o mercado global, visto na Europa e nos EUA.

De quais mudanças estamos falando?

  • O calendário do futebol brasileiro, que impacta diretamente em nossos campeonatos – sejam eles os estaduais ou nacionais;
  • A criação de um liga que representem os clubes e atuem em prol do crescimento e desenvolvimento de todos na parte técnica e na gestão;
  • Nossos direitos de TV que hoje só atingem o mercado interno – mesmo tendo a capacidade de alcançar o exterior, mas com um imenso problema das negociações contratuais e individuais dos clubes longe do ideal;
  • A valorização do torcedor sendo visto como um consumidor que busca por experiências e vínculos verdadeiros;
  • A criação de novos ídolos – um agente importantíssimo e capaz de despertar novos fãs que vão se conectar com os clubes nacionais;
  • Vínculos de parceiros com os novos patrocinadores para mostrar ao mercado que as grandes marcas (Top Brand) merecem voltar a investir no futebol;
  • Fundamentos de Governança e Compliance, pois isso mostra a todos da cadeia que o futebol consegue cumprir normas regulamentares, legais e transparentes;
  • Fair play financeiro como um recurso para impedir o aumento do endividamento dos clubes e atuar como um recurso para o controle das finanças com regras e punição para quem descumprir.

Os pontos levantados acima, são aqueles que hoje eu entendo que merecem maior atenção dos players dessa cadeia. Conforme visto, a indústria é bilionária, porém apresenta inúmeras falhas estruturais que comprometem a todos. Se ao menos iniciarmos as discussões com o objetivo único de promover as mudanças, já é um grande avanço.

A crise é um momento de oportunidades para o crescimento. Mesmo tendo um perfil bem otimista e sempre usando esse espaço no Ataque para mostrar que existem bons trabalhos na Gestão e Marketing Esportivo no Brasil, precisamos aproveitar essa pausa e, de fato, atingir nossa maturidade e iniciar as mudanças.

Para baixar o relatório completo, clique aqui.

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