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Impactos do coronavírus no esporte: profissionais avaliam cenários

Como o covid-19 vai refletir no cenário esportivo mundial

Estamos acompanhando o desenrolar da pandemia que se instalou no mundo. A história está sendo escrita e, portanto, precisamos analisar os impactos do coronavírus no esporte. É preciso ter uma visão além do lado financeiro. Tudo o que vivemos agora é uma incerteza muito grande, em meio a vários cancelamentos. Não há ainda como calcular perdas nestes primeiros dias. Por agora, não vamos ainda levantar números ou cifras significativas.

Não sabemos quanto tempo tudo isso vai durar. E com isso, continua o esporte sem rumo. Sem receita de bilheteira, sem sócio torcedor que pode cancelar a mensalidade, as lojas dos clubes sem fluxo, escolinhas paralisadas. Além disso, os patrocinadores podem solicitar renegociação – ou cancelamentos – com a falta de visibilidade. Mas podemos ter ainda outros desdobramentos. O calendário esportivo, por exemplo. É um momento que vai exigir muito: de executivos de gestão, passando por atletas, imprensa e alcançando os torcedores e fãs do esporte.

Calendário será impactado a curto e longo prazo

O surto de coronavírus dizimou a programação esportiva e afetou os maiores eventos de 2020. Vários esportes tiveram que tomar medidas para impedir a propagação do vírus, como a Euro 2020, a ser realizada somente em 2021. Houve adiamentos também em toda a esfera do futebol mundial.

Recentemente foi a vez das Olimpíadas. O grau de impacto no lado financeiro é o maior da história. Mas o cenário, em termos de calendário, deve espremer competições (isso envolve patrocinadores, venda de ingressos, televisionamento) e poderá desencadear outros problemas.

Dentro deste cenário, o Ataque procurou 2 profissionais envolvidos com o esporte para elucidar a conclusão de como o esporte será afetado. Perguntamos:

“Como você acha que o Coronavírus vai impactar o mercado esportivo no Brasil, a curto e longo prazo?”

Recebi, como esperado, ótimas respostas que acredito serem úteis para qualquer profissional de marketing esportivo hoje.

 Alex Rangel – Sócio de Consultoria da Ernest Young

Restrições a caminho: Alex avalia os impactos do Coronavírus no esporte

Alex Rangel, Sócio de Consultoria da EY para o Mercado Esportivo topou falar com a gente. E foi categórico:

“Pensando em marketing esportivo, certamente nós vamos ter um impacto de curto prazo. Enquanto durar todo esse processo de restrição à prática de eventos culturais e esportivos por conta do Covid-19 não faz muito sentido a assinatura de novos contratos de marketing ou prorrogação dos mesmos que estejam vigentes neste período, ou também a extensão dos mesmos. As empresas também terão dificuldade de caixa e vão restringir diversos dos seus desembolsos. O marketing de massa, a menos que sejam atividades essenciais, vai ser certamente restrita.”

Alex analisou também o cenário futuro do esporte: “isso tudo terá um impacto muito grande nas instituições esportivas. Naturalmente, todo o esporte vai voltar um dia. Quando acabar a restrição e voltar os campeonatos, a tendência é que você tenha um retorno, ao menos parcial, de uma maneira rápida. E então, talvez, o que tenha um impacto mais duradouro é: se esse grau de restrição se estender por muito tempo, se a descapitalização das empresas for muito severa e essa crise deixar de ser uma crise de saúde, e tornar uma crise econômica muito profunda, se isso acontecer, uma parte boa das empresas irá voltar ao mercado de uma maneira muito mais modesta da forma como elas estão atuando antes.” Rangel conclui: “Mas, durante esse período, certamente muita coisa vai acontecer neste mercado de marketing.”

Mauro Cezar acredita que o cenário é preocupante para os brasileiros

O jornalista Mauro Cezar foi enfático com as implicações que isso pode gerar ao futebol brasileiro: “O coronavírus já está causando um impacto muito grande. Os clubes não estão jogando, então eles ficam sem suas receitas habituais. Não se sabe quando voltarão a jogar. Os compromissos financeiros continuam chegando, as contas tem que ser pagas, assim como os salários dos jogadores e dos demais profissionais. E o pior é que não se sabe quando haverá retorno. A situação das maioria dos clubes de futebol do Brasil é ruim do ponto de vista financeiro e a tendência é piorar. E vai piorar mais ainda se a aventura defendida por alguns nos bastidores, que seria uma mudança na fórmula de disputa da primeira divisão do campeonato brasileiro com a adoção do mata mata.

“Isso significaria uma queda de receita ainda maior.”

Mauro analisa: “Isso porque a televisão teria o direito de pagar menos, afinal, não teria 38 jogos de cada equipe e sim 19, no máximo 22, dependendo de quem se classificasse para as fases decisivas. Ou seria um pouco mais do que isso. Um time poderia fazer no máximo 25 partidas. Desde 2003 temos pontos corridos. A televisão comprou 380 jogos, e não 204, que seria o número de jogos, se adotarmos o mata-mata. O contrato com os clubes protege a rede de televisão que pode simplesmente cobrar essa cláusula e pagar menos. Isso seria terrível para os clubes de futebol do Brasil. Sem contar queda de receita de pay-per-view, queda de receita do sócio torcedor – que basicamente o ST do Brasil se sustenta em função justamente da busca pelo ingresso mais barato e pelo acesso ao ticket por parte do torcedor.

Por fim, Mauro conclui: “O cenário é muito preocupante. Muito preocupante. A tendência é que os ricos, os poucos clubes que estão ricos, que tem dinheiro ou saúde financeira, fiquem ainda melhores. E os que estão no buraco vão cavar ainda mais esse buraco provavelmente depois que essa crise passar.

Considerações finais

Essa virtude do imediatismo está agora se mostrando a grande fraqueza do esporte. Contudo, seria vital para o carro chefe do Brasil, o futebol, se preparar para mudanças. Por que não repensar a equiparação ao calendário europeu? Que tal o clube remodelar o seu sócio torcedor para que ele não tenha somente a relação de ingressos? O que oferecer ao torcedor, além de somente o jogo? O esporte pode ser oferecido como espetáculo como um todo.

O primeiro desafio está sendo gerar conteúdo para o público. Entretanto, podemos ver que alguns clubes estão com dificuldade em segmentar o público e oferecer conteúdo relevante.

O que acontecerá com o esporte depois dessa paralisação? A gestão do esporte vai precisar se reinventar. A curto prazo, será o momento de agir e avaliar acordos futuros com base nas perdas. Empresa sem faturar, não vai investir em patrocínio. Sem evento esportivo, não há o que ser transmitido. No entanto, a TV está com programação de jogos antigos. Isso não atrai audiência como eventos ao vivo. Essa reação em cadeia vai fazer a indústria do esporte repensar muita coisa.

Que todos comecem a se preparar desde já.

Imagens: REUTERS/Athit Perawongmetha / acervo pessoal dos convidados

Agradecimento especial para Alex Rangel e Mauro Cezar Pereira por gentilmente, aceitarem participar

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